Bloco de Notas #01: a decisão acertada da Williams F1…

F1
A Williams apresentou nesta segunda-feira o novo FW43, monolugar com que espera fazer melhor do que na passada temporada, apesar de o carro ser “uma evolução” do modelo anterior.
Estou dividido quanto a esta opção tomada pela equipa de Groove: por um lado, preocupado com o facto de terem seguido a mesma base, tendo em conta os resultados paupérrimos de 2019; por outro, de acordo na justificação de que o melhor caminho rumo ao topo passa pela identificação dos problemas e a sua resolução enquanto confirmam se há realmente correspondência entre o simulador, o túnel de vento e a pista.
Tudo somado, diria que a decisão de manterem o conceito estreado no FW42 é a mais acertada, mesmo que permaneçam na cauda do pelotão, sobretudo pela entrada em vigor do novo regulamento. Há ainda muito por validar internamente e não possuem nem os recursos, nem o poderio financeiro da maior parte dos rivais, sendo que todas as estruturas do meio do pelotão estão já focadas em 2021 — uma posição partilhada certamente pela Williams.
Daí não ter dúvidas de que o melhor momento para estrear novos conceitos e filosofias de design é mesmo a próxima temporada, onde há muito mais a ganhar na batalha incessante por regressarem aos lugares da frente. Basta recordar 2014, ano em que as atuais regras dos propulsores híbridos entraram em vigor.

WRC
A Toyota regressou aos triunfos no último Rali da Suécia, prova assombrada pela falta de neve que curiosamente tem marcado as mais recentes edições do certame. Sinais dos tempos, tais como os da ascensão meteórica de um jovem de apenas 19 anos chamado Kalle Rovanpera.
Um talento como poucos, num carro também ele competitivo como poucos, só podia dar certo. E o miúdo Rovanpera já provou que não vem simplesmente aprender com uma das grandes referências da modalidade na última década, “Monsieur” Sébastien Ogier.
Tem fome de triunfos e após este primeiro pódio da carreira ao mais alto nível, derivado de um excelente 3º lugar em que superou, precisamente, a estrela francesa (pelo meio, ainda venceu a Power Stage e o 1º troço no WRC), Kalle vai querer certamente aspirar a mais e bater o recorde de piloto mais jovem de sempre a vencer no Campeonato do Mundo de Ralis.
Um marco obtido em 2009 por um finlandês então com 22 anos e 313 dias chamado Jari-Matti Latvala — precisamente o piloto que Kalle veio substituir na equipa e cujo outro feito (o de piloto mais novo de sempre a terminar no pódio de uma prova do WRC) acaba de destronar. Ironias da vida…

Indycar
Vai ser necessário esperar mais alguns meses para vermos os efeitos da liderança da Penske nos destinos da principal competição de monolugares do outro lado do Atlântico, agora que foi consumada a aquisição dos seus direitos — e a propriedade do histórico circuito de Indianápolis — pelo incontornável Roger Penske.
Para já, sabe-se que a primeira reunião de Roger com as equipas deixou sensações positivas, com o veterano de 82 anos a apresentar-se sem qualquer vestígio das cores da Team Penske e a vestir a preceito o papel de quem tem de satisfazer as pretensões de todos. Soube separar as águas de alguém que é simultaneamente promotor e proprietário de uma estrutura com pedigree e interesses no campeonato, e esse primeiro passo só pode auspiciar algo de bom para o futuro.
Depois, anunciou já importantes acordos com novos patrocinadores, muitos deles associados à própria Penske e que decidiram investir no campeonato como um todo, mas também novas experiências de consumo e entretenimento para os fãs que acompanham a prova. Entre estas encontra-se o aumento das horas de transmissão televisiva, novo formato de qualificação e modificações na infra-estrutura do circuito. Caso para dizer “keep going, Roger!”
Mais impressionante foi a prestação de um jovem que sigo com particular atenção desde 2015, o neo-zelândes Scott McLaughlin, que com 26 anos é bicampeão dos V8 Supercars e vencedor da “Bathurst 1000” que se realiza em Mount Panorama, considerada o “Santo Graal” do automobilismo australiano.
Um prémio pelo seu desempenho no Team Penske nas últimas três temporadas, onde acumulou triunfos e pole-positions, Scott teve uma estreia auspiciosa na competição. Concluiu a primeira experiência no Circuito de Sebring a 1s do mais rápido, impressionando os responsáveis da equipa que rapidamente confirmaram a sua estreia em corrida no GP de Indianápolis (‘road course’) que se realizará em Maio deste ano para logo depois terminar os testes de pré-época no Circuito das Américas com um excelente 3º lugar, à frente de dois colegas do Team Penske bem mais experientes (e com títulos no currículo), Josef Newgarden e Simon Pagenaud.
Dois dias volvidos ainda fez a sua estreia em ovais no Texas Motor Speedway, novamente com bons indicadores à mistura. Tenho fé neste piloto e é com expectativa que irei acompanhar os desenvolvimentos desta aventura, desejada pelo próprio, na terra do ‘Tio Sam’.

V8 Supercars
O dia de hoje arrancou com a triste notícia de que a General Motors decretou o fim da Holden a partir de 2021. Com 160 anos de história e mais de 60 de presença ininterrupta no desporto motorizado australiano, esta decisão terá sem sombra de dúvida fortes implicações na mais popular competição do País, encerrando, por imposição, o feudo histórico que a Holden travou com a Ford na luta pela supremacia em pista num dos mais importantes campeonatos de turismo do mundo.
Não posso, contudo, afirmar que era uma decisão inesperada: a produção do modelo na Austrália tinha sido descontinuada em 2017 e o emblemático Commodore, em conjunto com o Astra, desaparecido de circulação a partir deste ano. No final, a GM decidiu que iria terminar com a comercialização dos modelos em solo australiano, depois de as vendas terem caído (novamente) 36% em 2019, pautando-se pela 10ª posição da tabela, bem atrás de generalistas como a Kia, Ford e Nissan.
Contra factos, não há argumentos, e depois da GM ter vendido a Opel e Vauxhall para o grupo PSA Peugeot Citroën em 2017, é chegado o momento de encerrar em definitivo o percurso da Holden (cuja plataforma do modelo Commodore era precisamente baseado no Opel/Vauxhall Insignia) para se concentrarem na eletrificação, modelos com volante à esquerda e mercados de maior rentabilidade.