Sandbagging, de novo ?
Sandbagging – descreve alguém que tem baixo desempenho em um evento. O termo tem vários usos, como um piloto que compete em um evento em uma série abaixo do seu nível de conhecimento para terminar em alta.
Este estrangeirismo, muito corrente na linguagem da Fórmula 1 (F1) e noutras competições motorizadas, é um clássico aquando dos testes de pré-temporada.
Há 2 anos atrás, na pré-época em Barcelona (onde durante os últimos 20 anos, a F1 tem feito o seu defeso, bem como em Jerez ), ao sair-se da Catalunha, rumo a Melbourne para 1a ronda de 2019 (na pré pandemia era quase sempre na Austrália a abertura da época), a Ferrari era unanimemente considerada a favorita. Dizia-se que os italianos, eram mais de meio segundo por volta mais rápidos que os Mercedes. Mas chegados a Melbourne, a Scuderia foi pelos enxovalhada pelos alemães, na qualificação e na corrida.
Mencionei este pequeno facto, para pormos em perspetiva os recentes testes de pré-época no Bahrein. Desta vez, foi a Red Bull a mais rápida, tanto em ritmo de qualificação, bem como em corrida. O carro parece estável, sobretudo na traseira do mesmo, que era o principal problema dos rubro-taurinos nos últimos 2 anos. O motor Honda também aparenta que deu um salto de competitividade, em particular na dirigibilidade (a famosa driveability) do mesmo.
Max Verstappen, mesmo saindo de pista e voltando, conseguia à mesma fazer os tempos mais rápidos, espremeu tudo o que pôde do Red Bull-Honda, parecendo sempre em controle do seu monolugar. Sérgio Perez adaptou-se bem, tal como se previa e naturalmente foi mais lento que Vestappen, mas não pareceu perdido como antes estiveram Pierre Gasly (este em 2019, nos testes em Barcelona, teve um despiste que danificou bastante o carro, fazendo a Red Bull perder tempo valioso de pista) e Alex Albon.
Perez afirmou que vai precisar de 5 corridas para estar completamente à vontade com seu monolugar, mas acredito que em ritmo de corrida já estará à vontade no Bahrein, daqui a semana e meia, ou no máximo a seguir, em Imola.
Na Mercedes, é que as coisas não começaram bem. No primeiro dia, problemas de caixa de velocidades fizeram a formação anglo-alemã perder a manhã toda do primeiro dia de testes. Depois, à tarde, a tempestade de areia também não ajudou.
O Mercedes parece ter uma traseira muito solta, à lá Red Bull dos últimos 2 anos e vimos Hamilton com saídas de pista e piões, tanto a média, bem como a baixa velocidade. Bottas não saiu tantas vezes de pista, mas também não puxou tanto pelo carro como Hamilton fez.
Habitualmente, a Mercedes, nos testes roda com 30 a 40kg de combustível a mais que os seus adversários, portanto, números redondos, há um segundo para ir buscar nessa situação. Mesmo assim e acreditando que com pouco combustível, pondo o motor no parâmetro de maior potência disponível, em ritmo de qualificação, não me surpreenderei se for tão, ou mais rápido, que os Red Bull.
Agora em corrida, neste momento, diria que os carros das bebidas energéticas são mais rápidos. Mas como o título deste artigo diz, pode ser tudo, novamente, um enorme Sandbagging dos reis do mesmo, a Mercedes…
No pelotão intermediário, ou a F1 B, apesar de Marcin Budkowski da Alpine dizer que já não existem 2 pelotões, mas sim apenas 1 e que assim seja, é extremamente difícil de dizer quem está melhor. A olho nu, diria que McLaren, Alpine, Alpha Tauri e Ferrari estão muito equilibradas em termos de ritmo de qualificação, mas em modo de gestão de corrida e de degradação dos pneus, considero que a McLaren e a Alpine estão na frente.
Também ingleses e franceses não mostraram o jogo todo no Bahrein. Não fizeram aquela volta com pouca gasolina e modo de motor mais potente. A Ferrari, em ritmo de qualificação, parece estar bem. Em situação de corrida já nem tanto. Claramente deram um enorme passo em frente com o seu motor (o principal calcanhar de Aquiles do ano passado), o chassis parece melhor igualmente, mas o carro ainda está nervoso, arisco, mas continuando a evoluírem no acerto do carro e com algumas atualizações, creio que se vão solidificar na luta entre as equipas depois da Red Bull e Mercedes.
Mas ferraristas, esqueçam ver o cavallino rampante na luta pelas vitórias. Se conseguirem um 3º lugar final entre os construtores e alguns pódios, já será bom.
A McLaren, trouxe a maior inovação para os testes, um novo difusor, surpreendendo as demais equipas e com estas a dizerem que irão copiar esta solução. Daniel Ricciardo, parece já muito bem integrado com a equipa e com o carro, o monolugar de Woking foi rápido, consistente e à prova de bala. Acho que ainda não mostraram tudo, por isso McLaren fãs, preparem-se para uma boa estreia na temporada e uma excelente época, quiçá repetindo o P3 final entre os construtores de 2020 e talvez, uma vitória… ?
Na Alpine, tudo também correu sob rodas, Fernando Alonso nem pareceu que esteve 2 anos ausente da F1, rodou e rodou, sem problemas, como sempre o Príncipe das Astúrias esteve rápido, consistente, a dar feedback precioso à equipa. Estaban Ocon, moralizado com o seu primeiro pódio na penúltima corrida de 2020, também esteve bem, veloz, regular, motivado e seguro. Respira-se moral pela Alpine e ainda bem.
A Alpha Tauri e o rookie Yuki Tsunoda, estiveram em grande estilo. Pelo que pude ver dos 3 dias de testes, o carro parece muito rápido em ritmo de qualificação, a gerar rapidamente temperatura para os pneus e a manter a mesma consistente ao longo de uma volta completa.
Tsunoda foi a estrela do último dia de testes, fazendo volta rápida atrás de volta rápida constantemente, sem cometer erros, muito seguro de si, confiante, tranquilo e veloz. Aposto neste menino como a nova estrela da F1 e poderá ser o 1º japonês a conquistar uma vitória para os nipónicos. O ano passado, Pierre Gasly venceu brilhantemente em Monza e se este ano as condições novamente se reunirem, quem sabe se Tsunoda não surpreende e triunfe. Ou então, teremos novamente Gasly a ser outra vez vencedor. Acho mesmo que Alpha Tauri irá no mínimo conseguir pódios este ano e vencer não está fora de hipótese.
A Aston Martin foi a grande desilusão dos testes, para uma equipa que vinha com tanto hype. Não tiveram culpa dos problemas de caixa de velocidades, pois usam a da Mercedes. Mas prometia muito mais. No entanto, o carro ainda não teve chance de mostrar todo o seu potencial e acredito que há muito no mesmo.
Foi o monolugar com mais alterações para este ano, com uma nova monocoque, numa época em que pouco se pôde mudar nos chassis. Mas os ingleses fizeram muitas alterações. Os dutos de travões, desta vez, são totalmente desenhados dentro de portas. E outras inovações.
Sebastian Vettel, novo recruta da Aston, dizia que precisava de mais 100 voltas para conhecer bem o carro e estar à vontade com o mesmo. Mas, também disse que não vai para a 1a corrida do ano no Bahrein, para continuar a testar, mas sim para competir. Vettel pareceu tranquilo, seguro, confiante, empenhado, a ver vamos se teremos o alemão dos tempos da Toro Rosso e Red Bull.
Na Williams, segundo George Russel, o carro funcionará bem, ou mal, conforme a direção do vento. O monolugar de Grove não teve problemas mecânicos, fartou-se de andar, não pareceu espetacular, mas também não se mostrou como o carro do fundão da grelha. Acho que estará atrás em termos de performance da Alfa Romeo, mas à frente da sinistra Haas.
Quando à Alfa Romeo, claramente melhorou bastante, primeiramente devido ao franco progresso do motor Ferrari que a puxa, mas também devido a uma asa dianteira nova e outras pequenas atualizações. Kimi Raikkonen e Antonio Giovinazzi fizeram muitas voltas, sem percalços, consistentes, relativamente rápidos, mostrando que subiram de nível em relação ao ano passado.
Por último e certamente em último andarão, temos a outrora prometedora Haas. Uma equipa que hoje em dia está na F1 apenas para participar e receber o prize money, que diz que este ano não vai desenvolver o carro, só para se focar no novo monolugar, com os novos regulamentos, do ano que vem.
Dizendo isto, cuidado com a Haas para o próximo ano…Deve ser, imagino, extremamente desmotivador para os 2 rookies, que sabem que só lutarão entre eles este ano, o campeão da F2 Mick Schumacher e o seu colega de equipa Nikita Mazepin. Acho que teremos faísca entre os 2 e também acho que Mazepin será mais rápido no geral que Schummy Jr.
Posto isto, venha daí o Drive to Survive 3, que estreia no próximo fim de semana e sobretudo que chegue depressa a temporada de 2021, que arranca no circuito no Bahrein, pista que proporciona quase sempre um bom espetáculo.