Quando os testes eram no Estoril !

Heinz-Harald Frentzen no Williams-Renault, num dos últimos testes no princípio de 1997, antes da pista encerrar para obras para receber o Grande Prémio em Outubro desse ano, o que nunca aconteceu…

Desde meados de 1997, quando o Autódromo do Estoril fechou para obras para ser alvo de uma profunda remodelação na configuração da pista em nome da segurança, para poder continuar a receber o Grande Prémio de Portugal de Fórmula 1 (F1) que albergava ininterruptamente desde 1984, que as equipas de F1 deixaram de utilizar o mais antigo circuito português permanente como palco favorito de testes, salvo uns regressos fugazes de Williams, Benetton e Prost no início da década passada.  (https://arquivos.rtp.pt/conteudos/automobilismo-testes-de-f1-no-estoril/)

Ralf Schumacher em 2001 no Williams-BMW num raro teste de um F1 moderno da época no Autódromo do Estoril

Um jovem Jarno Trulli no Minardi em Fevereiro de 1997 num dos derradeiros testes da F1 no Estoril.

Depois, devido ao chumbo do Tribunal de Contas, por politiquice, ganância, lóbis, interesses pessoais e afins, as obras não ficaram prontas a tempo do Grande Prémio de 1997, bem como o de 1998, tendo depois destes tristes acontecimentos a FIA e sobretudo Bernie Ecclestone , o então patrão da FOM (Formula One Management), perdido de vez a paciência e acabou-se o Grande Prémio, até hoje.

Jean Alesi no Benetton-Renault na pré-época de 1997 e num dos últimos testes de um F1 como pista de eleição das equipas, antes do Autódromo fechar para as obras que demorariam o tempo suficiente para Portugal perder o Grande Prémio…

Até 1997 ( https://youtu.be/CdJ_ODZvyro), o que Jerez e sobretudo Barcelona têm sido para as equipas de F1, os seus circuitos preferenciais e oficiais dos testes, era o Autódromo do Estoril.

Michael Schumacher nos seus primeiros testes pela Ferrari.

Dizia-se que um carro que fosse rápido no Estoril era rápido em todo o lado. Era uma pista que tinha de tudo, curvas lentas, médias, rápidas (https://www.youtube.com/watch?v=yIVE1vRqtzY), condições climatéricas favoráveis, sobretudo no Inverno.

Bertrand Gachot no novo Jordan, equipa estreante e sensação em 1991 em testes no Estoril, piloto que mais adiante na temporada foi substituído por um tal de Michael Schumacher em Spa…

Jos Verstappen, pai de Max Verstappen, testou o Footwork no circuito do Estoril e surpreendeu com tempos sensacionais, que lhe valeram um contrato com a Benetton e considerado então como um futuro campeão do Mundo…

Era comum os fãs da F1 poderem no defeso irem ao Estoril ver as suas equipas e pilotos favoritos testarem, muitas vezes o acesso às bancadas, sobretudo as Bancadas A e B (as da reta da meta) e a H (a da Parabólica Exterior como era conhecida na altura e desde 1994 Parabólica Ayrton Senna) eram livres.

Ayrton Senna testando o McLaren-Lamborghini em 1993 e que teve resultados promissores, mas a equipa optou pelos motores Peugeot para 1994…

O circuito era diferente da actual versão, as curvas 1 e 2 eram bastante mais rápidas, os pilotos após a curva da Orelha continuavam a subir até fazerem a curva do Tanque, os Esses também eram diferentes, bem como a Parabólica Ayrton Senna, mais rápida que hoje em dia(https://www.youtube.com/watch?v=yIVE1vRqtzY).

Versão até 1993 do Circuito do Estoril utilizada pela F1

Ayrton Senna nas suas primeiras voltas no Williams-Renault em Janeiro de 1994 e também das últimas vezes que os F1 rodaram com a versão com a curva do Tanque.

Mas a segurança era também menor, a escapatória da Curva 2 não existia quase, no Tanque idem, a da Parabólica Ayrton Senna também era muito reduzida face à velocidade que os F1 percorriam aquela curva, lembro-me de à minha frente assistir ao acidente de Mika Hakkinen (https://www.youtube.com/watch?v=7R8wWvBnyjQ) na estreia pela McLaren em 1993, corrida em que se não fosse esse acidente poderia ter ganho.

Alain Prost testando e aferindo se com o McLaren-Peugeot valeria a pena regressar à competição, o que o após o teste no Estoril confirmou que não.

A Ferrari de Berger nas boxes em 1987.

Também assisti ao vivo a uma das melhores ultrapassagens de sempre na F1 e incrivelmente
pouco mencionada, a de Jacques Villeneuve em Williams a Michael Schumacher de
Ferrari, por FORA na Parabólica. (https://www.youtube.com/watch?v=Mp37Rl2J_fg)

Pedro Lamy a testar o Tyrell.

Apresentações dos novos carros (https://www.youtube.com/watch?v=DImf3UWbJwQ),
testes infindáveis, semanas inteiras de acção, eram um clássico no Autódromo (https://youtu.be/RqhSJ1oYUWM ). Tal como hoje em dia as equipas conhecem todos os detalhes do circuito de Barcelona-Catalunya de trás para a frente, o mesmo sucedia com o circuito do Estoril.

Di Angelis no Brabham-BMW “skate” revolucionário da criação do genial Gordon Murray.

Eram tempos tão intensos de F1 em Portugal, que já era uma
coisa banal para quem morava na zona, ouvir o brutal ronco dos V8, V10 e V12 da época.

Michael Schumacher num inusitado teste no Ligier em 1994.

Recordo-me de numa sessão de testes da pré época de 1996 (https://www.youtube.com/watch?v=WYpEDbXoxyQ&pbjreload=10 e https://www.youtube.com/watch?v=WYpEDbXoxyQ ), eu e um amigo termos perguntado à senhora que geria o bar por
baixo da Bancada A se conseguia meter-nos nas boxes. Ela falou com o segurança
do túnel de acesso ao Paddock e lá entrámos, com a maior excitação,
emoção e incredulidade que dois adolescentes apaixonados por F1 sentiam.

Jan Magnussen, pai de Kevin Magnusssen actual piloto da Haas F1, então piloto de testes da McLaren e considerado outro potencial futuro campeão do Mundo…

Estivemos ao lado de muitos pilotos, conversámos tranquilamente com o Mika Hakkinen, na altura ainda a recuperar do seu terrível acidente em Adelaide em 1995, com o David Coulthard, vimos um jovem Jan Magnussen (pai de… Kevin Magnussen, actual piloto da Haas F1 ) a passear pelo paddock, ficamos pasmados ao ver a passar à nossa frente o então “apenas” bicampeão do mundo de F1, Michael Schumacher, nas suas primeiras voltas no monolugar da Ferrari e com o seu novo motor V10, (https://www.youtube.com/watch?v=GHHsZrTNgsk&t=64s). Acabado de chegar ao Cavallino Rampante,  Schummy era claramente o piloto com mais aparato dos media nesse dia.

Alain Prost, na altura piloto de testes de luxo da McLaren-Mercedes.

Jacques Villeneuve nos muitos kms de testes que fez no circuito do Estoril.

Mas tudo isto era o padrão, as equipas de F1 virem ao Estoril para testar.  Jacques Villeneuve por exemplo, na sua preparação para a estreia no Campeonato do Mundo de 1996, passou boa parte de 1995 e na pré época de 1996 a testar exaustivamente no Autódromo. Até disse na altura que a pista portuguesa era maravilhosa até se chegar à chicane ou variante, que ele
detestava.

Ayrton Senna numa sessão dos testes.

Chicane, que ao contrário do que muitos acham, não foi criada
em nome da segurança após os acidentes mortais de Ayrton Senna e Roland Ratzenberger
em 1994, mas sim no ano anterior para as provas de motociclismo internacional,
sendo depois a partir de 1994 e até hoje utilizada obrigatoriamente pelas
motas, mas também pela maioria de corridas de automóveis, salvo poucas excepções
em que é utilizada a espectacular, desafiante, rápida, “cega”, mas de facto
perigosa curva do Tanque. Insegura, porque a mesma não tem praticamente escapatória, nem
pode ser construída nenhuma devido aos limites do terreno onde está inserido o
Autódromo.

David Coulthard na pré-temporada em 1996.

Foram maravilhosos tempos, em que tínhamos a F1 no
Autódromo do Estoril quase o ano todo, para além obviamente do Grande Prémio,
quase sempre no penúltimo fim de semana de Setembro, tirando a edição de 1984,
a que deu o terceiro e último título a Niki Lauda e que foi em Outubro e a de
1985, que aconteceu em Abril ( e literalmente “águas mil”) que teve como
vencedor pela primeira vez na sua gloriosa carreira Ayrton Senna, no seu lindo
John Player Special Lotus. ).

Gerhard Berger em 1990.

Esperemos que um dia a F1 regresse a Portugal, nem que seja
só para testes, sejam eles no Estoril ou em Portimão (que recebeu testes
oficiais em 2009). Mas se o regresso incluísse também o Grande Prémio, era um
sonho tornado(novamente) realidade.

Elio di Angelis nos seus primeiros testes com o Brabham-

3 thoughts on “Quando os testes eram no Estoril !

  • Fevereiro 21, 2020 at 11:32 am
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    Ui que memórias!

    Estar em casa, em S. João do Estoril e ouvir o ronco dos carros no autódromo! impressionante.

    Lembro-me perfeitamente de ser um putozinho e ter ido ver um grande prémio, estar na bancada central e o meu pai tapar-me os ouvidos com o casaco, porque na recta o som era insurdecedor! Bons tempos…

    Deixa-me triste, que, por causa de interesses e palhaçadas, tenhamos perdido uma das melhores competições para se ver ao vivo!

    Óptimo Post!

    Reply
    • Fevereiro 24, 2020 at 2:36 pm
      Permalink

      Eram de factos tempos maravilhosos, eu tive a sorte e ir ver o GP de 1986 a 1996, para além dos testes.

      E sim, perdemos estupidamente a F1.

      Obrigado pelo elogio !

      Reply
  • Fevereiro 26, 2020 at 11:38 am
    Permalink

    Francisco, excelente artigo!

    Ainda esta semana comentei com amigos das memórias que tenho de ser puto e ir com o meu Pai ver os testes de F1 na bancada A.

    Ainda tenho aquele som na cabeça: vrrruuuuuuuummmmmmmmmmmm

    Obrigado pelos vídeos.
    É um grande prazer ler os teus textos e ouvir te no podcast.

    Continua!

    Reply

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