O melhor piloto da última década (na minha opinião)

É sempre um exercício muito difícil de fazer, dizer quem foi o melhor piloto de sempre, ou da última década, como é o objectivo deste artigo. Diferentes eras, carros, circuitos, tecnologia, talento do pelotão, orçamentos, tudo e muito mais influencia e muito quem vence corridas, campeonatos, quem é o Melhor.
Costuma dizer-se que os melhores pilotos estão nos melhores carros. Assim sendo, Michael Schumacher teve o melhor carro, sobretudo entre 2001 e 2004, conseguindo de 2000 a 2004, com Rubens Barrichello como colega de equipa, 5 títulos consecutivos de pilotos e outros tantos de construtores para a Ferrari.


De 2010 a 2013 tivemos outro caso igual, com Sebastian Vettel e a Red Bull a serem campeões de pilotos e construtores 4 vezes consecutivas. De 2014 até 2019 assistimos ao domínio da Mercedes, com o construtor germânico a não deixar nada para ninguém, sendo campeão de pilotos e construtores umas exasperantes 6 vezes seguidas, com Lewis Hamilton campeão por 5 vezes e Nico Rosberg outra.

O que podíamos concluir por estes números ? Que na década anterior Vettel e Hamilton foram estatisticamente os melhores, com Hamilton alcançando mais um título que Vettel na década passada, vencendo mais vezes, com mais poles, voltas mais rápidas, voltas na liderança, portanto apenas olhando para dados, Hamilton é O Piloto da década passada claramente.

É como também afirmar, unicamente olhando para os números, que Michael Schumacher foi o melhor pilotos de todos os tempos com os seus 7 campeonatos, vindo a seguir o hexacampeão Lewis Hamilton, depois o “penta” Juan Manuel Fangio, os “tetra” Vettel e Alain Prost e só depois viriam os “apenas tri” Ayrton Senna, Nelson Piquet, Niki Lauda, Jack Brabham e Jackie Stewart.

Os “só” bicampeões Fernando Alonso, Jim Clark, Graham Hill e Emerson Fittipaldi, os lendários pilotos que “só” têm um título, como são os exemplos de Mario Andretti, James Hunt, Nigel Mansell, Keke Rosberg, Jenson Button, entre outros, que foram “apenas” uma vez campeões do mundo, a basear-nos apenas em números puros e duros, estes teriam um lugar quase esquecido no imaginário dos fãs.

Mas os números não são tudo. Porque se assim fosse, não eram tão glorificados, eternamente recordados, adorados, comparados, referências, pilotos que não esmagaram todos os recordes, mas que nos deixaram momentos inesquecíveis dentro e fora da pista. Foram e são ídolos mesmo depois de se retirarem ou de já não estarem entre nós, como são os casos de Ayrton Senna, Niki Lauda e Juan Manuel Fangio, isto só para mencionarmos os mais recordados e continuadamente mencionados como referências.

Por isso, para mim, na última década, o melhor piloto foi Fernando Alonso. Sim, é uma pessoa difícil de trabalhar, não é a toa que saiu muitas vezes a mal das equipas onde passou, começando pela McLaren em 2007, depois na Ferrari em 2013, a relação tumultuosa com a Honda no regresso à McLaren em 2015. Relação que deixou marcas profundas, pois apesar de já não trabalhar com a Honda desde 2017, mesmo assim valeu-lhe um rotundo não por parte dos japoneses, em competir nas 500 milhas de Indianápolis com os motores nipónicos este ano…

Mas Alonso, com um carro inferior ao Red Bull de Vettel entre 2010 e 2013, quase foi campeão em 2010 e 2012 e ainda dando luta pelo título até quando o carro lhe permitiu em 2013. Nesses 4 anos, vimos o gigante talento do espanhol, vencendo corridas em que não era suposto ganhar, espremendo ao máximo o Ferrari, com um monolugar tecnicamente abaixo do bólide de Vettel. Foi por pouco que Alonso não acrescentou mais dois títulos pela Ferrari aos dois alcançados com a Renault em 2005 e 2006.

E mesmo nesse bi-campeonato com os franceses, Alonso teve um carro que era um dos melhores, mas não o melhor. Em 2005 e 2006 teve como grandes adversários e com carros pelo menos a par do seu Renault, primeiramente o McLaren-Mercedes de Kimi Raikkonen e depois o Ferrari do hepta-campeão Michael Schumacher.

O grande problema de Alonso é não ser um “team-player“. Quando as coisas não lhe correm bem desata a culpar, publicamente, a equipa, pressiona excessivamente os mecânicos e engenheiros, criando um ambiente dentro da equipa tóxico, paralisante, fazendo com que a equipa tenha medo de falhar e por conseguinte não arriscando.

Depois, também fez más escolhas de equipa, primeiro saindo da McLaren no final de 2007, tendo esta em 2008 sida campeã com Lewis Hamilton. Depois rejeitou a Red Bull em detrimento da Ferrari, sendo a marca das bebidas energéticas campeã de pilotos e construtores de 2010 a 2013. Saiu da Ferrari no fim de 2014 e no ano seguinte a mesma volta a vencer corridas, lutando pelos títulos em 2017 e 2018 com Vettel.

Sobretudo em 2018, a Ferrari desperdiçou com vários erros de Vettel e outros da própria equipa, a chance de serem campeões e muitos na altura afirmaram que se fosse Alonso que estivesse ao volante, este não teria certamente perdido a oportunidade de ser campeão como Vettel o fez.

Por fim, novamente em 2018, quando Alonso opta por sair da McLaren e da F1, depois de um ano horrendo da equipa inglesa, a McLaren, de penúltima entre as equipas em 2018 salta para o 4º lugar dos construtores no ano passado, volta também ao pódio, é a melhor do “pelotão B”, como é chamado o grupo de equipas depois de Mercedes, Ferrari e Red Bull.

O que concluo ? Que Fernando Alonso é um dos melhores talentos de todos os tempos, a par em termos de velocidade, técnica, estratégia, agressividade, paixão, coragem e destreza dos melhores que já vi correr na F1 no meu tempo, que na minha opinião são Ayrton Senna, Alain Prost, Michael Schumacher e Lewis Hamilton.

Para terminar, espero que Alonso ainda regresse à F1. Mas a regressar, que seja numa equipa que seguramente lhe dê um carro em que possa logo de caras lutar pelo título. Mas é muito difícil que isso aconteça. Porque teria de passar pela Mercedes, Ferrari ou Red Bull. Mas infelizmente, por culpa do reconhecido feitio difícil de Alonso, as portas estão fechadas nessas equipas.

Por isso, neste momento é ir à “biblioteca online” e procurar as grandes corridas e vitórias do espanhol, na Renault e na Ferrari.