Ferrari, a Campeã de Inverno…

Pré época de 1991, a Ferrari faz os melhores tempos dos testes, a maioria dos mesmos no Autódromo do Estoril, até 1996 palco principal de testes de todas as equipas de F1. Mas chegando à primeira corrida da temporada do Campeonato do Mundo, no desinteressante circuito citadino de Phoenix, no Arizona, a McLaren com o então bicampeão do mundo, o brasileiro Ayrton Senna, faz a pole position com mais 1,1 segundos de vantagem para a Ferrari do francês Alain Prost. Na corrida, Senna venceu com uma vantagem de mais de 16 segundos para Prost e sem nunca ter sido incomodado pelo então tricampeão do mundo.
Nas restantes corridas de 1991, nunca a Ferrari fez uma pole, quanto mais lutar por uma vitória, sendo a principal rival da McLaren na luta pelos títulos de pilotos e construtores a Williams, sim essa mesma.
Em 1991 só a falta de fiabilidade e o génio de Senna impediram a Williams de começar o seu domínio massacrante que teve sobretudo em 1992 e depois em 1993, vencendo ainda o título de construtores em 1994, de pilotos e construtores em 1996 e 1997. Isto para não falar que na década de 80 em que também foi campeã, entre pilotos e/ou construtores de 1980 a 1982 e em 1986 e 1987. Para aqueles menos recordados, já foi Grande, Gigante, a Williams e esperemos que um “milagre” ou finalmente um uso eficaz dos ainda bons recursos humanos e técnicos que persistem em Grove, façam sair a laureada e mítica equipa fundada por Sir Frank Williams, mas gerida actualmente pela sua filha Claire (feminismos à parte é, também, uma das causas dos problemas) do fundo do poço donde está.



Mas voltando ao tema deste artigo, na pré temporada do ano passado, novamente a Ferrari, com o tetracampeão do mundo, o alemão Sebastien Vettel e o então rookie de 2018, o monegasco Charles Leclerc, dominaram os testes de pré temporada em Barcelona, chegando-se a dizer que a vantagem da Ferrari para a Mercedes por volta seria cerca de 7 décimas, mas depois, em Melbourne, palco desde 1996 de quase todos os Grandes Prémios inaugurais, na qualificação o então pentacampeão do mundo de F1, o inglês Lewis Hamilton da Mercedes, fez a pole e “dando” quase oito décimas a Vettel, que foi apenas 3º.
Na corrida, Hamilton venceu com quase 1 minuto de vantagem sobre a melhor Ferrari (nas poucas vezes o ano passado em que foi melhor que o seu colega de equipa ) de Vettel, que desceu de 3º na qualificação para um muito distante 4º na corrida, com o seu novo colega de equipa Leclerc colado a si (e a ver-se pela primeira, de várias vezes no ano passado, impedido pela própria Ferrari de ir “para cima” de Vettel ou prejudicado na estratégia pela mesma).
O que quero dizer com tudo isto? Que não devemos acreditar cegamente nos tempos dos testes que brevemente irão ter lugar, tal como aconteceu nos já mencionados anos de 1991, 2019 e também em 2001 (quando a “defunta” Prost Grand Prix liderou os testes de pré temporada, mas novamente quando o campeonato começou em Melbourne, o melhor Prost na qualificação, de Jean Alesi, “levou” 3 segundos do Ferrari do pole position e então “apenas” tricampeão do mundo F1, o alemão Michael Schumacher).
Nos testes de pré temporada da F1, a Mercedes tem sido pródiga em esconder o jogo, não rodando no máximo das suas capacidades, não estando preocupada em fazer tempos “canhão” para fazer capas de jornais, mas sim em fazer o maior número possível de voltas, simular ao máximo distâncias de corrida, usando muitas vezes os pneus médios. Recordo-me dos testes de pré época de 2016 quando a Mercedes só quase andou com pneus da mistura média, os homens de Brackley rodam muitas vezes com o tanque cheio ou quase.
Por outro lado, na Ferrari, ainda se preocupam muito com as capas da exigente imprensa desportiva italiana, com fazer o “tempo canhão” mais do que verdadeiramente testar o carro em ritmo de corrida, com o tanque cheio, com as várias misturas dos pneus Pirelli, com diferentes set-ups, dominar o comportamento muitas vezes imprevisível dos pneumáticos italianos, treinar paragens na box (no ano passado nesse campo e na estratégia no geral, a Ferrari foi “patética”).
Por isso, recomendo-vos descontarem e muito se virem um tempo feito por Vettel ou Leclerc mais rápido 1 segundo que um Mercedes, ou um Red Bull, pois faz-se muito sandbagging ( describes someone who underperforms (usually deliberately) in an event ) como dizem os ingleses nos testes, por exemplo muitas vezes um piloto da Mercedes, Ferrari ou Red Bull, as 3 equipas que têm dominado a F1 sobretudo desde 2013, levanta o pé de propósito no último sector do circuito de Barcelona, só para não mostrar todo o potencial do carro e deixar os adversários cheios de confiança ou carregados de dúvida.



Vamos então aos testes de pré-época da F1 da qual já todos temos muitas saudades, espero que Ferrari e Red Bull possam dar muita luta à Mercedes TODA a temporada e não pontualmente, que apareça alguma outsider na luta pelas vitórias, será ela a McLaren, a Renault, outra? A ver vamos, mas já falta pouco para começar o Campeonato do Mundo de F1 de 2020!!!

