Porque é que eu amo a Fórmula 1?
Das primeiras memórias que tenho, é estar a assistir a um Grande Prémio de Fórmula 1 (F1), creio que deveria ter uns 4 anos, portanto em 1984. E o primeiro carro que me recordo, era azul e branco, o mítico e lindo Brabham-BMW, conduzido por Nélson Piquet.
Outro monolugar que me ficou na retina também dessa altura, com cor vermelha e branca, era o McLaren TAG-Porsche de Niki Lauda, que foi o meu primeiro piloto favorito.
Mas tudo mudou, para sempre, no ano seguinte, no que toca a piloto preferido, pois ao ver aquele majestoso e icónico F1 preto e dourado, com um capacete cor de limão, conduzido com tanta espetacularidade, determinação, raça, talento, rapidez, de nos fazer levantar do sofá, celebrando as vitórias com tanta emoção, conectando com os fãs de uma maneira tão natural e genuína, que nenhum outro, na minha opinião, conseguiu ou sequer conseguirá, estou a falar obviamente do meu ídolo eterno, Ayrton Senna, no seu Lotus-Renault nº12.
A partir daí, fiquei agarrado à F1. Comecei a gravar em VHS (miúdos, na altura havia uma cena chamada VHS, ou vídeo gravador se preferirem, com umas cassetes grandes, tínhamos de ver sempre em direto o programa que fosse para poder gravar, uma trabalheira…), quase todos os Grandes Prémios, até à morte do meu herói em Imola, no ano de 1994. Mas não deixei de continuar a ser um viciado em F1, nem acho que alguma vez deixarei.
Depois, de 1986 até 1996, fui ao vivo assistir ao Grande Prémio (GP) de Portugal de F1, no Autódromo do Estoril, então aí tornei-me um F1 dependente. Ouvir aqueles brutais motores turbo de 1ª geração dos anos oitenta (em 1986 estavam no seu auge da sua potência), era sinfonia, magia, entrava-se num estado de excitação, vibração, emoção, totalmente presente no momento, que mais nada interessava.
Depois a partir de 1989 até 1996, como os V8, V10 e V12, o som atingiu um nível para lá de galáctico em termos de beleza, paixão, entusiasmo, era música para os nossos ouvidos e corações. Distinguíamos perfeitamente o som do V8, o mais “baixo”, do V10 ou V12. E o V12 da Ferrari, era, “jasus”, que coisa linda, poética, excitante, vibrante, estremecia a bancada quando os Ferrari V12 passavam por nós.
Ver aqueles monstros passarem tão depressa, as bancadas cheias, com toda a gente vestindo as t-shirts e camisolas alusivas aos seus ídolos, fazendo uma festa como se num estádio de futebol estivessem, quando o seu piloto de eleição passasse.
Por essa altura, muito devido à primeira vitória de Senna no Estoril em 1985, a maioria dos adeptos eram Sennistas, havia também claro uma enorme legião de tiffosis, muitos torciam por Prost, Piquet, Mansell, os fãs da Brabham também ainda era uns tantos, havia que chegasse para quase todos os gostos.
Nesses primeiros anos de GP de Portugal, ia para a bancada A. Vendo agora, era excelente para ver o arranque, as paragens na boxe (na altura não havia limite de velocidade no pitlane, por isso os pilotos entravam e saíam a todo o gás), a bandeira de xadrez, o pódio, mas não muito mais.
Quando passei a ir para a bancada H, a da parabólica exterior, ou parabólica Ayrton Senna se preferirem, aí sim passei a ter uma visão muito melhor, pois tínhamos os esses, a parabólica exterior e até meio da reta da meta no nosso campo de visão, mais a reta e parabólica interior. Pude ver, petrificado, ao quase looping completo de Riccardo Patrese, quando tocou na roda traseira esquerda de Gerhard Berger, quando este último se dirigia para as boxes.
Lembro-me vividamente de Mikka Hakkinen, na sua primeira corrida pela McLaren, perder o controle do seu carro na saída da parabólica. Recordo-me como se fosse hoje, de umas das melhores ultrapassagens de sempre na F1, a de Jacques Villeneuve a Michael Schumacher, por fora, na parabólica, foi algo que fez toda a gente da bancada H levantar-se, perder o fôlego e depois aplaudir de pé o piloto canadiano quando passou por nós na volta(s) seguintes a caminho da vitória.
O ambiente à volta do GP era algo muito especial. À porta da entrada para as bancadas, na praça da maratona da bancada A por exemplo, tínhamos os vendedores de merchandising da F1. Era uma corrida às bancas para se comprar as t-shirts, camisolas, polos, bonés e bandeira do piloto, ou da equipa que torciam. Praticamente todo o fã estava equipado a rigor, dando um colorido às bancadas muito bonito.
Foi através de tudo o que mencionei acima porque me apaixonei pela F1. Tem sido uma relação no geral de amor, mas também de ódio, sobretudo quando perdi o meu herói Ayrton Senna. Também os anos de domínio de Schumacher e da Ferrari, o pentacampeonato, sobretudo os anos de 2001, 2002 e 2004 foram muito entediantes.
Depois os anos de 2011, 2015, 2019 e muito o de 2020, tirando o regresso da F1 a Portugal e a Portimão, foram anos em que muitas vezes estive quase a adormecer, tentando assistir às corridas, mais por paixão e vício, do que por prazer.
Acho que a F1 precisa de um abanão urgente. Recordo-me quando a FIA e bem, entre 2004 e 2005, proibiu as trocas de pneus durante a corrida, o que imediatamente acabou com o domínio da Ferrari e pôs a McLaren e a Renault a lutarem pelo título, dois jovens lobos finalmente a terem condições para lutarem constantemente pela vitória, Kimi Raikkonen e Fernando Alonso.
Mais tarde, durante os anos de dominío da Red Bull, em particular 2011 e 2013, a FIA tentou de tudo para aligeirar essa dominação, não conseguiu de facto, mas mesmo assim tivemos o título decidido em 2010 e 2012 só na última corrida. Desde 2014 que a Mercedes, tirando um bocado em 2017 e sobretudo em 2018, com Hamilton a alcançar todos os títulos menos um e a Mercedes a limpar todos, imperou categoricamente perante os demais.
A FIA podia e DEVIA ter tentado baralhado as contas, seja com a corrida sprint ao sábado, com a grelha invertida da qualificação de sexta, o que faria com que os engenheiros tivessem obrigatoriamente de desenhar carros “amigos” das ultrapassagens e de seguir de perto o carro da frente. Seria mais um fator de indefinição e improvisação, ou pelo menos estariam a tentar fazer algo de diferente, para abanar com o status quo muito enjoativo, que dura há excessivamente muito tempo.
Mas apesar de todas as minhas queixas acima, as mesmas não retiram de todo a minha paixão por F1. Será preciso muito, mas mesmo muito, para sequer equacionar perder esse amor.
Por isso, como dizia o outro, F1 forever !!!